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CONTRA A INDÚSTRIA DA PEDOFILIA

CONTRA A INDÚSTRIA DA PEDOFILIA
– André L. Soares – 29.05.2009 –
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Pelo prisma técnico, ‘pedofilia é um transtorno mental, onde a pessoa apresenta fantasia e excitação sexual intensa com crianças pré-púberes. O abusador tem no mínimo 16 anos de idade e é pelo menos 5 anos mais velho que a vítima’ [http://www.abcdasaude.com.br/artigo.php?5]. Isso é uma doença e, portanto, deve ser tratada como tal, por médicos, psicanalistas e outros especialistas. A isso não vou comentar, porque me falta conhecimento.
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No entanto, há outra forma de pedofilia que, pelo menos no que tange à sua origem, não tem relação direta com qualquer problema mental. Falo da INDÚSTRIA DA PEDOFILIA, responsável pelo comércio de fotografias, vídeos, desenhos do estilo ‘hentais’, revistas e, obviamente, também pela prostituição de menores. Essa mesma que a Polícia Federal vem combatendo bravamente nos últimos meses.

Mas, considerando-se que nem tudo cai nas malhas da Polícia e da Justiça, como ficar imune a isso? Como proteger as crianças? A resposta pode vir da questão: ‘que mundo nós temos ajudado a construir?’. Eu que nunca pus os pés fora do país, mas que posso dizer que conheço bem o Brasil, vou tentar falar somente do caso brasileiro. Então, é preciso refazer a pergunta: ‘que país nós temos ajudado a construir?’.
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A indústria da pedofilia encontra seu ambiente mais propício em sociedades cujas leis não são levadas a sério e onde, obviamente, reina a impunidade. Também é favorável a essa indústria o contexto de ‘erotização de crianças e adolescentes’. E, deve-se admitir, é isso que faz, com muita eficácia, a televisão brasileira. E o que se tem feito contra isso? Nada.
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O Brasil – também conhecido como ‘país do absurdo’ – vive o clímax do neoliberalismo. Aqui tudo é válido para ganhar dinheiro, seja com ética, ou não. Porém, antes, quando a cultura partia do centro para a periferia, era acusada de ‘elitização’. Agora, que a cultura percorre o caminho inverso, tem-se a ‘vulgarização’. E ninguém diz nada. Assim, erramos todos nós.
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O Estado, por permitir, por exemplo, a existência de canais a cabo que transmitem hentais 24 horas, é sócio da indústria da pedofilia. A mídia, que veicula toda sorte de programas, propagandas e canções erotizadas, no estilo ‘quanto mais vulgar, melhor’, é sócia da indústria da pedofilia. Na ponta do sistema, as ‘lan house’, empresas de pequeno porte, estruturadas de tal modo que os proprietários mal conseguem vigiar o caixa, muito menos controlar o que seus clientes menores estão acessando, também são sócias da indústria da pedofilia.
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Daí que, não se eliminará a indústria da pedofilia, sem antes corrigir uma série de disfunções sociais que abrangem, desde a erotização da mídia até a impunidade parlamentar. Não se trata de moralismo ou censura. É questão de bom-senso: que tipo de sociedade será construída, por um povo cujas rádios veiculam uma canção que diz ‘bebo pra caralho’? É possível suscitar e garantir a inocência em uma sociedade assim?
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E nós, que ficamos olhando tudo isso acontecer e se desenvolver, sem fazer nada, somos as vítimas omissas e permissivas, que, de modo indireto,… por medo, preguiça, egoísmo, comodidade, também damos ‘carta-branca’ à indústria da pedofilia.
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INCLUSÃO SOCIAL NO BRASIL: O CASO DOS EX-PRESIDIÁRIOS

INCLUSÃO SOCIAL NO BRASIL: O CASO DOS EX-PRESIDIÁRIOS

– André L. Soares – 08.03.2009 –

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‘Inclusão social’ é uma expressão muito em moda, principalmente a partir dos anos noventa, com a expansão das chamadas ‘Organizações Não-Governamentais’ (ONGs),… instituições que, por meio de capital de terceiros (quase sempre dinheiro público), desenvolvem ações de caráter social em áreas específicas, previamente definidas. A inclusão social pressupõe a integração ou reintegração, na sociedade, daqueles que, por razões diversas, encontram-se à margem de um contexto de mínima qualidade de vida.


Mas, de fato, a inclusão social ocorre em nível satisfatório?

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Infelizmente não possuo dados estatísticos sobre quaisquer formas de inclusão social, de modo a poder analisar uma série temporal e saber, por fim, se o volume de dinheiro empregado nessas ações resultou em um número satisfatório de pessoas socialmente incluídas.

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No entanto, pode-se analisar essa questão por outro ângulo. De acordo com o professor Cristóvam Buarque, quando se trata de vidas humanas, se todo dinheiro do mundo for gasto para salvar apenas uma única vida, já terá sido válido. Esse é um extremo do humanitarismo que me agrada. Por isso mesmo, não vou questionar, aqui, a expansão das ONGs nos últimos vinte anos, nem os escândalos envolvendo algumas delas.

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O que questiono é se a inclusão social existe na prática e, ainda, se a sociedade realmente permite a inclusão social. Para isso, tomo como exemplo o caso dos ex-presidiários.

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Uma vez que tenha cumprido a pena – e considerando-se o baixo grau de eficácia do sistema prisional brasileiro em reeducar criminosos –, o ex-presidiário é, para a sociedade livre, uma ‘sinuca-de-bico’: se a sociedade o reintegra imediatamente, corre o risco de ter, dentro de suas casas e/ou empresas, alguém muito suscetível a cometer novos ilícitos; porém, se a sociedade não o reintegra imediatamente, terá a certeza de que esse alguém cometerá novos ilícitos.

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Bem provável que o ex-presidiário seja o mais difícil caso de inclusão social. No entanto, deve ser também o caso que se faz mais urgente e necessário. Para tanto, é preciso que a sociedade entenda que isso só será viável se a reintegração tiver início já no primeiro dia de cumprimento da pena. Do contrário, não adianta esperar que um detento esteja pronto para viver em sociedade apenas porque cumpriu seu tempo atrás das grades, onde havia o mais completo ambiente de violência e injustiça.

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A inclusão social de ex-presidiários passa por pelo menos três medidas básicas: reforma do sistema prisional, que inclua, entre outras coisas, profissionalização dos detentos; reforma do código penal, com inserção de penas mais severas para os reincidentes; incentivos fiscais às empresas que derem emprego a quem já esteve preso.

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Infelizmente, o debate acerca da inclusão social de ex-presidiários tem sido cada vez menor. Resquícios dessa importante discussão estão restritos ao meio acadêmico, onde as teses não alcançam vigor prático. Nas esferas do governo, no entanto, essa polêmica vem sendo tratada em ‘quinto plano’, o que significa dizer que a sociedade continuará, ainda por muitos anos, no mesmo dilema; impedida, por força do medo, de auxiliar a quem tanto precisa de ajuda.

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Essa postagem é parte da blogagem coletiva promovida pela gentil Esther, do blog ‘Esterança’, cujo intuito precípuo seja trazer a debate questões relacionadas à inclusão social no Brasil. Parabenizo especialmente a Esther, por tentar fazer da blogosfera brasileira um espaço útil à discussão amigável dos problemas nacionais. Aos demais participantes, meu mais sincero respeito, bem como meu agradecimento por disponibilizarem seus blogs a essa importante ação coletiva.

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CONTRA O PLÁGIO (II)

CONTRA O PLÁGIO (II)
– André L. Soares – 03.01.2009 –
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Quando se fala em plágio – crime que cresce de modo assustador na blogosfera brasileira –, custo a crer que haja mesmo alguém capaz de cometer tamanha insanidade. Explico: basicamente, todo criminoso tenta, ao máximo, desvincular sua pessoa do ato ilícito.
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Assassinos profissionais usam silenciadores, luvas, máscaras, agem à noite e, em geral, tentam se livrar da arma do crime. Ladrões também escondem o rosto, disfarçam-se, fazem uso de apelidos provisórios e gírias, escondem o produto do roubo por algum tempo, depois fogem para longe.

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Mafiosos – tipos mais requintados de criminosos – constroem ‘capas’ de dignidade por meio de seus negócios lícitos; bem como utilizam documentos falsos e, ainda, contratam ‘laranjas’; tudo para tornar mais difícil relacioná-los às atividades escusas.
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Nos morros cariocas, os traficantes se protegem com máscaras, entocam-se em favelas de difícil acesso e, quando a coisa aperta mesmo, fogem para outro Estado.
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E assim por diante,… todos os criminosos procuram, das mais variadas formas possíveis, não deixar vestígios da violação da lei.
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Só o plagiador não.
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O plagiador é o mais imbecil dos criminosos, pois é o único que, em um misto de vaidade e ignorância, acrescenta – orgulhoso – seu nome ao ‘bem’ indevidamente apropriado. Enquanto todos querem distância da prova do crime, o plagiador, em atitude mais-que-doentia, une-se nominalmente à ‘res furtiva’.
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Isso talvez explique a razão primeira do plágio: o plagiador é dotado de estupidez, mediocridade e pobreza de espírito tão inimagináveis, que, de fato, jamais poderia produzir texto de próprio punho e, também, não teria sensibilidade alguma para ‘clicar’ ao menos uma fotografia original.
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Contudo, se não tem capacidade e sensibilidade para ser original, que vá, então, fazer qualquer outra coisa, contanto que deixe a blogosfera livre para quem possui coragem de se expor às críticas (nem sempre favoráveis), ética para respeitar o trabalho alheio e, obviamente, algum resquício mínimo de talento.
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Chega de plágio! Basta!
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CONTRA O PLÁGIO (I)

CONTRA O PLÁGIO (I)
– André L. Soares –
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Em virtude de meu envolvimento com a literatura amadora, em que constatei inúmeros plágios, de textos meus e de outros autores, a experiência tem mostrado que, em geral, quando o plágio é descoberto, assim que vão surgindo as provas, o plagiador vai também ‘sumindo’ da web, apagando perfis de Orkut, postagens e blogs onde se possa comprovar o crime.


No entanto, algumas vezes, não muitas, o plagiador é mais ousado: ‘bate o pé’ e tenta, de todo modo, afirma-se como autor. E isso não vale só para escritores desconhecidos. Acreditem, já houve quem tentou convencer que era autor de um poema que, na íntegra, era idêntico a um outro texto de ninguém menos que J. G. de Araújo Jorge, um dos maiores poetas brasileiros do século XX.

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Tratava-se de um poema com, aproximadamente, vinte versos, contendo, ao todo, cerca de duzentas palavras. Ainda assim, o plagiador – uma mulher – insistia que desconhecia o texto original e que o fato de haver outro exatamente igual era mera coincidência. Porém, do ponto de vista lógico, isso é humanamente impossível.

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Ao se escrever um texto muita coisa está em jogo. Isso porque o conhecimento humano se forma a partir de duas fontes básicas: a) a educação formal, advinda das instituições como escola e igreja, por exemplo – onde se aprende a escrever, contar e entender conceitos elementares inerentes às ciências e à filosofia; e, b) educação empírica, por meio da qual são absorvidas informações gerais, na informalidade cotidiana, sem que se perceba.

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Daí que, para muitos, é possível lembrar o dia exato em que aprendeu que a fórmula da água é H2O (educação formal). No entanto, não creio que alguém se lembre quando aprendeu, por exemplo, o que é chão, o que é parede, ou o significado das palavras ‘não’ e ‘beleza’. Porque isso se aprende pela vivência.

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É essa combinação de saber formal e saber empírico que torna impossível que duas pessoas escrevam o mesmo texto.

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Ao longo da vida, duas pessoas até podem receber a mesma dose de educação formal. Mas cada uma absorverá de modo diferente. Por exemplo, uma se destacará em cálculos; outra, em história; e, mesmo que ambas sejam boas em português, uma sentirá mais facilidade para entender certos aspectos da gramática que a outra. Ou seja, sempre haverá diferenças no aprendizado.

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No que tange ao saber empírico, as diferenças são ainda maiores. O saber empírico constrói as noções subjetivas. Assim, se duas pessoas que têm a mesma formação acadêmica lêem, por exemplo, ‘O Capital’ (Karl Marx), as interpretações da obra variarão de acordo com outras leituras que cada um tenha feito acerca de política, direito, filosofia, bem como em função do que disseram seus pais acerca do socialismo e guerra-fria; dos lugares visitados ao longo da vida, ou ainda, por força da religião, entre outros inúmeros fatores.

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Desse modo distinto, com que cada pessoa tem de entender o mundo, surge a forma única de cada ser humano se expressar.

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No caso da elaboração de textos, tudo isso tem importância e, ainda mais, o domínio que cada um tenha da linguagem culta, das gírias, da capacidade individual de estruturar metáforas e jogar com as palavras, do conhecimento sobre estruturas e estilos de redação.

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Além isso, ainda há o fator motivador, comumente chamado de inspiração, que nasce, de um lado, por decorrência do conhecimento acumulado (educação formal somada à vivência pessoal) e, de outro, por força de eventos e sentimentos momentâneos imprevisíveis, tais como o amor e o ódio.

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A título ilustrativo, vale lembrar o caso do cantor e poeta Renato Teixeira. Em entrevista ao Programa do Jô, ele afirmou que, quando estava compondo ‘Romaria’, uma de suas canções mais famosas, imortalizada na voz de Elis Regina, sentiu preguiça em determinado momento e decidiu acabar a canção de qualquer jeito. Daí o último verso, que diz: ‘seu olhar, seu olhar, seu olhar…’.

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Então, para que alguém também pudesse compor aquela mesma canção do Renato Teixeira, seria preciso, no mínimo, ter a mesma vivência no meio rural brasileiro, com forte influência do catolicismo tradicional, conhecer a cultura das festas cristãs, possuir basicamente o mesmo conjunto vocabulário, e, ainda por cima, ao escrever o poema, exatamente na hora de compor o verso final, sentir a mesma preguiça que se abateu sobre esse autor, escolhendo também o ‘olhar’ como última referência metafórica, ao invés de outro verbo qualquer da primeira terminação (‘ar’).

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Diante disso, será mesmo possível que duas pessoas já tenham escrito dois textos exatamente iguais? Eu não creio.
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