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A ‘VITÓRIA DE PIRRO’ DOS NEOLIBERAIS

A ‘VITÓRIA DE PIRRO’ DOS NEOLIBERAIS

– André L. Soares – 23.03.2009 –

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Pirro foi um grande guerreiro. Rei de Épiro e da Macedônia, viveu de 318 a 272 a.C.. Conhecido por se opor à Roma, imortalizou-se, após vencer uma batalha em que perdera todos os seus mais bravos soldados, ao pronunciar a seguinte frase: ‘– Outra vitória igual a essa e estaremos derrotados!’.

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É exatamente assim a forma como entendo a vitória dos neoliberais a partir dos anos 90, quando, em escala global, enfraqueceram o Estado, diminuindo sua participação na economia, ao desregulamentar e privatizar setores antes considerados estratégicos. O resultado dessa catastrófica vitória está aí: crise econômica, cuja gravidade pode levar o planeta à outra grande guerra.


Observando-se a história do século XX pode-se entender que, nos chamados ‘períodos de crise’, o dinheiro, por alguma razão, alocara-se em setor que não reinvestia em ritmo e volume suficientes para que o capital pudesse voltar ao sistema e dar continuidade ao processo de produção e consumo.

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Na crise dos anos 20, que resultaria na quebra da Bolsa de Nora Iorque, em 1929, foi o excesso de capital aplicado em ações, levando à queda brusca dos demais investimentos, o que, basicamente, explicou aquele momento catastrófico da economia mundial. Porém, sabia-se onde estava o dinheiro: quase todo aplicado em títulos de empresas que passaram rapidamente a apresentar prejuízos, levando, por conseguinte, à desvalorização desses mesmos papéis.

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Nos anos 70 e 80, a crise foi originada pelas manipulações feitas pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo quanto ao preço do barril. Mais uma vez era sabido onde estava o dinheiro. Este escoava, por meio da importação de petróleo, para os países-membros da OPEP que, por sua vez, não o reinvestiam na mesma proporção.

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No entanto, analisando-se o cenário atual, uma coisa ainda não me parece bem explicada: onde foi parar o dinheiro do mundo? De modo ‘mágico’, passou-se da explosão do consumo para o caos, em apenas um ano. Mesmo sabendo-se que os maiores compradores do planeta, os EUA, estavam atolados em uma guerra já há seis anos, ainda assim, não é possível crer que o dinheiro esteja na indústria bélica. Se fosse isso, ele retornaria ao sistema pelas compras que tal segmento faz de bens de capital (maquinário, aço, químicos etc.).

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O que parece fazer mais sentido é que os bancos tenham retido todo o dinheiro. A retenção é fruto da desregulamentação mundial desse setor – tragédia que os neoliberais nos impuseram a partir dos anos 90. Os bancos, ao longo dos últimos vinte anos, minimizaram seu papel como investidores. Paralelamente, passaram a cobrar juros que impediram que outros setores o fizessem. Assim, quando o capital próprio, de parte considerável das grandes empresas, enfrentou período de má-qualidade da gestão financeira, ficou impossível dar continuidade aos investimentos.

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Pior de tudo – e esse erro não ocorreu apenas no Brasil – é que, no mesmo período, o segmento bancário esteve entre os que mais receberam auxílio dos governos, fator que concorreu, ainda mais, para gerar a retenção do capital, justamente no setor que, de modo direto, nada produz. Afinal, banco é tão-somente um ‘atravessador’ do capital, cujo trabalho faz elevar o preço do crédito.

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Em suma, os governos usaram capital dos contribuintes para tentar sanar os erros oriundos da má administração. Desregulamentaram os bancos. Facilitaram-lhe todos os processos. Permitiram que cobrassem taxas absurdas para que tenham o privilégio de fazer mau uso de nosso dinheiro.

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O incrível é que a crise podia ser pressentida desde os anos 90, quando, em diversos países, inclusive o Brasil, vários bancos foram à falência. Agora já há quem reedite o discurso da estatização do setor.

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Por seu turno, os bancos vão se fundindo e se fortificando. Mais alguns anos e teremos um só banco no planeta, monopolizando crédito e investimento, dando rumos à indústria e à agricultura. Imagine o que isso pode significar! Hoje não é muito diferente. Contudo, ainda existe quem tenha ‘capital próprio’.

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Mais inacreditável é ver que, apesar de tudo, grande parte dos trilhões de dólares que os governos estão injetando nas ‘grandes economias’ esteja sendo usada, outra vez, para sanear o segmento bancário.

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Parabéns, senhores neoliberais. Vocês venceram. ‘Outra vitória igual a essa e estaremos falidos!’.

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DIGA, ESPELHO MEU: EXISTE SERVIÇO DE TELEMARKETING MAIS CHATO QUE O DO BRADESCO?

DIGA, ESPELHO MEU: EXISTE SERVIÇO DE TELEMARKETING MAIS CHATO QUE O DO BRADESCO?

– André L. Soares – 25.08.2008 –
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Hoje abordarei um problema que, possivelmente, seja também o de muitas outras pessoas. Não! Não é a rubéola. Trata-se do impertinente serviço de telemarketing do BRADESCO, que, não satisfeito em poluir nossas vidas com propagandas veiculadas na televisão – aberta e por assinatura –, nos principais jornais e revistas, nos ‘outdoors’ e cinemas, resolveu, ainda, ‘adentrar’ nossas casas diariamente, para ‘ofertar’ seus serviços.
Imagem do bina da minha casa.

Não sei dizer, com precisão, quando começou. Mas, há meses que, praticamente todo dia, recebo ligações interurbanas em minha residência. O ‘bina’ registra o número 1-11-3323-2360 (ver imagem acima), proveniente de São Paulo. É sempre a mesma coisa: uma bela e educada voz feminina pergunta se ‘fulano-de-tal’ está, referindo-se a um de nós, adultos da casa. É o telemarketing do BRADESCO, oferecendo cartões de crédito.
Informada de que já possuímos cartões de crédito e que, há muitos, usamos os serviços bancários do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, a moça agradece e desliga.
A princípio, pensei que isso teria fim. Mas estava errado. Atualmente, mesmo tendo limpado diversas vezes a memória do ‘bina’, o aparelho ainda registra várias ligações provenientes do mesmo número. A maior parte desses telefonemas deu-se em horário comercial. No entanto, depois de certo tempo, passaram a ligar após as dezoito horas. Outras vezes, após as vinte e duas horas. Havendo, ainda, ligações aos sábados e domingos. Em determinadas ocasiões, mais de uma vez no mesmo dia.
Após o primeiro mês, solicitei à moça do telemarketing que retirasse nosso telefone de sua lista de trabalho, pois, com base em nossos direitos, não gostaríamos mais de ser incomodados. Diante de meu pedido, algumas atendentes disseram que anotariam tal solicitação; outras apenas encerraram a ligação de forma educada. Entretanto, a despeito do que tenham dito as gentis senhoritas, a perturbação continuou.
Quero deixar claro que essa postagem não se volta às atendentes do BRADESCO. Essas são pessoas que trabalham arduamente, em nada responsáveis pelo abuso que ora descrevo. A elas afirmo, aqui, meu mais sincero respeito. Minha indignação se volta, exclusivamente, ao departamento de marketing (ou telemarketing) do BRADESCO.
Em seu ímpeto de atingir metas de venda de cartões de crédito, o departamento de marketing do BRADESCO viola nossos direitos; mesmo após ter ficado claro que não queremos mais ser incomodados. Isso porque o BRADESCO não está preocupado com os meus direitos e, menos ainda, com os direitos dos demais membros de minha família.
Ao departamento de marketing do BRADESCO não interessa nosso direito ao descanso; não interessa nosso direito à paz do lar, nos finais de semana; não interessa nosso direito a uma noite de sono tranqüilo, distante dos temas que, em geral, são tratados apenas em horário comercial.
Não vou negar, aqui, a importância dessa instituição bancária, que coloca agências na maioria dos municípios do País, voltando-se, de modo especial, às pessoas de baixa renda. É de meu conhecimento, também, o papel de destaque do BRADESCO na história do financiamento agrícola brasileiro. Contudo, isso não lhe dá o direito de ferir nossos direitos de cidadão e consumidor.
No Brasil, porém, isso acontece porque, aqui, ao invés de um ‘estado de direitos’, tem-se um ‘estado de dinheiro’, onde aos ricos – na forma de pessoas físicas ou jurídicas – é dado o privilégio de quebrar quaisquer regras.
Assim, na certeza da impunidade, o departamento de marketing do BRADESCO cospe nas regras básicas: tanto as ditadas pela Constituição Federal, quanto as estipuladas pelos mais elementares manuais de vendas. Possivelmente, por conta do enorme faturamento, quem estruturou esse plano de marketing dê risadas dos postulados de Phillip Kotler. Afinal, Kotler, gênio do marketing que se declara contrário às técnicas que violam os direitos individuais, escreve para o povo da América do Norte, onde tais direitos ainda são levados mais a sério.
Em ‘terras tupiniquins’, contudo, o departamento de marketing do BRADESCO quer que se danem nossos momentos de descanso e nosso direito à individualidade sem intromissões indesejáveis. Tudo que importa a essa ‘máquina de criar endividamento’ é o alcance das malditas metas financeiras.
Resolvi, então, agir de outra forma. Agora, quando ligam, quem atende ao telefone pede para esperarem ‘um minuto’, alegando ir chamar a pessoa com quem desejam falar; a atendente fica esperando. E pasmem: houve dias em que esperou mais de meia-hora, sem desligar. Ela parece estar munida de moderna central telefônica, de modo que, enquanto espera, segue em seu trabalho.
Compreendo que o BRADESCO tenha o direito de tentar vender seus produtos. Por outro lado, penso que, já na primeira abordagem, deveria também nos ser dado o direito de escolher se gostaríamos, ou não, que nosso número residencial fosse novamente utilizado pelo telemarketing daquela instituição; considerando-se, ainda, que nosso número – o qual sequer consta no catálogo – não foi dado, por nós, ao BRADESCO.
A Constituição Federal, em seu Art. 5º, inciso II, diz: ‘ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;’. Portanto, eu não quero continuar recebendo ligações telefônicas desse serviço de telemarketing. Isso é tão elementar. Então, porque o BRADESCO ignora?
Tudo isso me fez desenvolver, por lógica simples, o seguinte questionamento: se, antes mesmo de sermos clientes dessa instituição bancária, nossos direitos já são feridos; o que ocorrerá com nossa paz familiar, quando, porventura, o BRADESCO vier a ser – aos olhos da lei –, nosso credor?
Pensem nisso!

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