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SORRIA – SEUS MICOS ESTÃO SENDO FILMADOS

– André L. Soares – 17.10.2009 –
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No final dos anos 80, um grande amigo meu, enlouquecido por encontrar a namorada aos beijos com outro rapaz, subiu em uma mesa do ‘Beirute’ – que é, talvez, o bar mais conhecido de Brasília – e gritou, a plenos pulmões, que a amava e que ia encher ‘aquele cara’ de porrada. Para evitar o pior, muitos interviram, não sem antes que meu amigo derrubasse várias mesas e cadeiras, proferindo palavrões até então desconhecidos pela maioria dos presentes.
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Passado o momento – e arrefecida a paixão –, sempre que lembrávamos esse fato, meu amigo negava. Dizia que era mentira com tal veemência, que, após alguns anos, eu mesmo passei a duvidar que aquilo tivesse acontecido.
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Isso porque, antes era mais fácil ‘pagar mico’, já que os efeitos do vexame tinham menor durabilidade e alcance. Bastava, depois de algum tempo, mentir descaradamente, negando o ocorrido. Era a palavra de um contra a palavra do outro. Quem tivesse maior respaldo entre os ouvintes seria o ‘dono-da-verdade’. Hoje, porém, a coisa é diferente.

Agora o mundo está repleto de câmeras digitais, cada vez mais potentes, mais nítidas, mais modernas, mais baratas, com maior capacidade de armazenagem, gravando imagens e sons e, em alguns casos, transmitindo tudo – via ‘bluetooth’ – imediatamente para sites como o YouTube; onde, após exposto, o vídeo – ou a foto – estará acessível a milhões de pessoas. O episódio do ‘chip do Pedro’ deixou isso bem claro.
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Nunca foi tão difícil esconder fatos corriqueiros. Nunca a privacidade esteve tão ameaçada. Nunca as pessoas foram tão pouco confiáveis. Hoje, qualquer moleque, dotado de um celular com câmera, faz coisas que os ‘arapongas’ do SNI jamais imaginaram fazer, ao longo da ditadura militar.
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Na eleição de Barack Obama, o mundo conheceu fatos curiosos da intimidade do presidente, que foi flagrado, por exemplo, calçando sapato furado. O sapato velho do presidente não tem relevância. O problema é pensarmos que foi alguém, ‘de confiança’ – parentes, funcionários antigos, amigos íntimos – que repassou a foto, contrariando todo o trabalho de marketing pessoal.
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E se o homem mais poderoso do mundo não escapa a essa exposição; imagine o que não farão conosco esses invasores de privacidade. Agora é preciso pensar duas vezes antes de palitar o dente. E você, adolescente masturbador, cuidado: talvez seu irmão o esteja filmando, no escuro do banheiro.
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Muitos, buscando ter o vídeo mais acessado do dia, vão expor os entes mais queridos, sem pestanejar. E se isso tem um lado positivo, que é o de intimidar e, quem sabe até minimizar ações criminosas de menor porte; por outro lado, o próprio uso indevido dessas imagens – gravadas e expostas publicamente, em sua maioria, sem o consentimento dos envolvidos – já se constitui crime.
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Somando-se a isso os recursos do GPS e as prováveis evoluções de sistemas como o Google Earth, pode-se afirmar, sem chance de erro, que a privacidade está com os dias contados.
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