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A UNIVERSIDADE E OS NOVOS CARETAS

– André L. Soares – 16.11.2009 –

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Durante a ditadura, os universitários constituíam grupo fundamental na luta contra os militares. Era a efetivação prática do que aprendiam nos livros. Imbuídos das teorias de Marx, Sartre e Foucault, entre outros, a vontade de abalar as estruturas do poder surgia naturalmente.

Naquela época, estudante ouvia Caetano Veloso – que ainda não era um chato; mas, sim, a voz mais importante da arte de vanguarda no Brasil. Estudante lia ‘O Pasquim’, mesmo que isso o levasse aos porões do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social). Estudante via filmes de Glauber Rocha – que, de tão autêntico, irritava a direita e a esquerda.


No começo dos anos 80, ao visitar o campus da Universidade de Brasília, o Secretário de Estado norte-americano, Henry Kissinger, foi recebido com ovos. Era o jeito do universitário candango de protestar contra a política externa de Tio Sam.

Quando entrei na universidade, em 1988, um amigo me chamou: ‘– Vamos ao anexo’. Pensei tratar-se de algum antigo ‘aparelho comunista’. Era só um bar, ao estilo copo-sujo, onde estudantes matavam aula para se renderem à cerveja e ao ‘truco’ – o que não chegava a ser ruim.

No início dos anos 90, o universitário brasileiro que ainda protestava contra algo estava nas instituições particulares. Brigava contra o aumento da mensalidade. O último resquício de participação social se deu no ‘impeachment’ de Collor. Após isso, o termo ‘universitário’ foi desvinculado de qualquer reivindicação de maior importância.

Agora, que predomina o discurso meramente materialista, os universitários, em sua maioria, não têm ideais. Possuem carro novo, computador, blog, iphone e ipod. Porém, consciência crítica e opinião própria, a mídia não lhes permite que tenham.

Não digo, com isso, que para ser bom estudante alguém deva se sacrificar por alguma causa. Nem é preciso ser rato-de-biblioteca. Os tempos são outros. A visão social deu lugar à especialização profissional. No entanto, há que se ter um ‘norte’ filosófico: um mínimo-ético que oriente cada ação, impedindo que o universitário se transforme em retrógrado incorrigível, que agride alunas por conta de alguma saia que julgue curta demais.

Aliás, na minha época, mulheres e saias curtas eram muito bem-vindas entre nós, homens universitários. É,… os tempos são mesmo outros.

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