ENTRE O SUPOSITÓRIO E O VIAGRA – A INDÚSTRIA DA DOENÇA

ENTRE O SUPOSITÓRIO E O VIAGRA – A INDÚSTRIA DA DOENÇA

– André L. Soares – 14.04.2009 –

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Há tempos observo sensível mudança das matérias dos jornais escritos. Política e economia ainda são os temas predominantes. Porém, aos poucos, sobrepondo-se a esportes, assuntos policiais e generalidades, o tema ‘saúde’ vem se destacando nos periódicos brasileiros.

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Mas o que há de errado nisso? Nada haveria se tais matérias priorizassem ações preventivas. No entanto, não é o que ocorre.

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O que se vê é a gama de reportagens pagas, induzindo o leitor a adotar variados tipos de tratamento e medicamentos. Somente no último fim de semana, em apenas um jornal, identifiquei seis matérias dessa ordem, sugerindo desde balas para emagrecer e reposição hormonal, até cirurgias estéticas e dicas de ‘SPAs’.

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Por que isso agora? Até o fim dos anos 80 o Brasil vivia acentuado quadro de pobreza associada à crise estrutural. Nem os ricos tinham conforto. Havia pouca oferta de bens e serviços de qualidade. Paralelo a isso, leis restritivas e a baixa renda ‘per capita’ não permitiam importações.

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Com Collor, a abertura de mercado trouxe a qualidade dos produtos estrangeiros. A gestão FHC, ao controlar a inflação, elevou o padrão geral de consumo. O governo Lula combinou deflação ao aumento extraordinário da oferta. A junção do que houve de positivo nessas três fases fez surgir um Brasil, cujo PIB é superior, em mais de 200%, à soma do PIB das demais nações da América do Sul.

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Como resultado, o brasileiro mergulhou nos excessos. Nunca se bebeu tanto; nunca se fumou tanto; nunca se comeu tanto. Passou-se de ‘país dos desnutridos’ a ‘país dos obesos’. Desse novo cenário deriva a indústria da doença.

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Somente em termos diretos, esse poderoso segmento – ingenuamente chamado de ‘setor saúde’ – é composto por hospitais, clínicas, laboratórios, farmácias, planos de saúde, indústrias farmacêutica e de cosméticos, academias de ginástica etc.

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No passado, grande parte das doenças nacionais decorria da tripla combinação: ignorância, pobreza, inexistência de bens ou serviços. Agora, que se tem produtos, serviços e dinheiro, bastaria combater a ignorância.

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Mas isso a indústria da doença não quer. Por tal razão não desenvolve orientação preventiva, nem deixa que o governo o faça. Afinal, são os excessos desses novos tempos que lhes garantem crescente clientela.

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Tudo se agrava quando se percebe que – sob a influência dos maus-hábitos norte-americanos, que aprendemos na ‘tevê’ –, confunde-se alimento e diversão. Agora, domingos e feriados servem para que todos se entupam de churrasco e bebida. Nos shoppings, ir ao cinema significa comer pizza, sanduíche, chocolate, pipoca etc.

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Os poucos não sedentários, nem comilões, caem na armadilha da estética. Malhar não basta. Também vítimas do excesso, recorrem a anabolizantes.

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Em seu conjunto, o cenário não poderia ser mais favorável àqueles que lucram com a doença generalizada. Tudo sob o olhar passivo da ANVISA, que há muito perdeu o controle sobre o marketing dos produtos e serviços de saúde. Isso explica porque os jornais oferecem toda sorte de tratamento e medicamentos.

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Com isso, porém, apenas se admite a existência da doença. E o que esse país precisa é de campanhas preventivas, orientando a alimentação popular, de modo a promover a saúde, ao invés de apenas nos tornar, a todos, presas fáceis da indústria.

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A oferta de bens e serviços de saúde é essencial. Desde que não se permita manipular o povo, criando, no consciente coletivo, falsa necessidade de consumo.

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Do contrário, haverá o dia triste, em que o marketing milionário das cervejarias e das tabacarias será voluntariamente financiado pelos planos de saúde.

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Leia também: Alma de Poesia /Gritos Verticais /Natureza Poética /O Poema de Cada Dia /Poética Herética /Raiz de Cem /Sons de Sonetos

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  1. #1 por Marllon Santos em 15 abril, 2009 - 7:17 pm

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  2. #2 por andre em 15 abril, 2009 - 7:38 pm

    os laboratorios comandam economicamente grande parte do pais – 90% dos remedios sao farinhas que fazem efeito placebo – remedio de tudo que é tipo…propagandistas dando brindes para medicos que receitarem seu remedio – fode bem gostoso o paciente – os laboratorios aliciam de todas as maneiras e o estado compra remedios que nao funcionam para pagar pouco e desviar muito dinheiro- fica dificil fazer milagres em milagres – a criaçao de um unico laboratorio nacional quebrando as patentes internacionais ou se associando a grandes laboratorios para nós termos lucro diante de outros paises e nao empresarios terem lucro nas costas da miseria do brasileiro que acredita em dundes e fadas e politicos. abraços

  3. #3 por ismaelita em 15 abril, 2009 - 11:47 pm

    e´verdade os bens de serviços aumentam O PIB
    meus alunos não aguentam mais ouvir sobre isto.ótimo post

  4. #4 por Cris em 21 abril, 2009 - 1:08 pm

    Meu amigo,

    Os reais valores da vida, há muito foram distorcidos. O consumismo aliado a imposição de regras de beleza, transformaram o ser humano em máquina de seguir moda e comprar por comprar.

    Ninguém se preocupa em pesquisar se tem ou pode vir a ter um câncer de pele na hora que se bronzeia, mas todas essas pessoas, se preocupam em fazer plástica e ficarem dentro dos padrões de beleza impingidos pelos manipuladores.

    Ainda acho que as pessoas gostam de ser manipuladas.

    Cris

  5. #5 por carrepossesseion em 15 setembro, 2009 - 1:00 am

    Wow! Thank you! I always wanted to write in my site something like that. Can I take part of your post to my blog?

  6. #6 por Marcelo em 30 novembro, 2009 - 7:30 pm

    Parabéns pelo texto, totalmente lúcido e bem escrito.
    É tudo um grande ciclo de indústrias, que ti jogam de um lado para o outro ti fazendo gastar grana.
    Mas relaxa, não tem saída =P
    Abraços.

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