CONTRA O PLÁGIO (I)

CONTRA O PLÁGIO (I)
– André L. Soares –
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Em virtude de meu envolvimento com a literatura amadora, em que constatei inúmeros plágios, de textos meus e de outros autores, a experiência tem mostrado que, em geral, quando o plágio é descoberto, assim que vão surgindo as provas, o plagiador vai também ‘sumindo’ da web, apagando perfis de Orkut, postagens e blogs onde se possa comprovar o crime.


No entanto, algumas vezes, não muitas, o plagiador é mais ousado: ‘bate o pé’ e tenta, de todo modo, afirma-se como autor. E isso não vale só para escritores desconhecidos. Acreditem, já houve quem tentou convencer que era autor de um poema que, na íntegra, era idêntico a um outro texto de ninguém menos que J. G. de Araújo Jorge, um dos maiores poetas brasileiros do século XX.

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Tratava-se de um poema com, aproximadamente, vinte versos, contendo, ao todo, cerca de duzentas palavras. Ainda assim, o plagiador – uma mulher – insistia que desconhecia o texto original e que o fato de haver outro exatamente igual era mera coincidência. Porém, do ponto de vista lógico, isso é humanamente impossível.

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Ao se escrever um texto muita coisa está em jogo. Isso porque o conhecimento humano se forma a partir de duas fontes básicas: a) a educação formal, advinda das instituições como escola e igreja, por exemplo – onde se aprende a escrever, contar e entender conceitos elementares inerentes às ciências e à filosofia; e, b) educação empírica, por meio da qual são absorvidas informações gerais, na informalidade cotidiana, sem que se perceba.

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Daí que, para muitos, é possível lembrar o dia exato em que aprendeu que a fórmula da água é H2O (educação formal). No entanto, não creio que alguém se lembre quando aprendeu, por exemplo, o que é chão, o que é parede, ou o significado das palavras ‘não’ e ‘beleza’. Porque isso se aprende pela vivência.

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É essa combinação de saber formal e saber empírico que torna impossível que duas pessoas escrevam o mesmo texto.

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Ao longo da vida, duas pessoas até podem receber a mesma dose de educação formal. Mas cada uma absorverá de modo diferente. Por exemplo, uma se destacará em cálculos; outra, em história; e, mesmo que ambas sejam boas em português, uma sentirá mais facilidade para entender certos aspectos da gramática que a outra. Ou seja, sempre haverá diferenças no aprendizado.

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No que tange ao saber empírico, as diferenças são ainda maiores. O saber empírico constrói as noções subjetivas. Assim, se duas pessoas que têm a mesma formação acadêmica lêem, por exemplo, ‘O Capital’ (Karl Marx), as interpretações da obra variarão de acordo com outras leituras que cada um tenha feito acerca de política, direito, filosofia, bem como em função do que disseram seus pais acerca do socialismo e guerra-fria; dos lugares visitados ao longo da vida, ou ainda, por força da religião, entre outros inúmeros fatores.

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Desse modo distinto, com que cada pessoa tem de entender o mundo, surge a forma única de cada ser humano se expressar.

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No caso da elaboração de textos, tudo isso tem importância e, ainda mais, o domínio que cada um tenha da linguagem culta, das gírias, da capacidade individual de estruturar metáforas e jogar com as palavras, do conhecimento sobre estruturas e estilos de redação.

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Além isso, ainda há o fator motivador, comumente chamado de inspiração, que nasce, de um lado, por decorrência do conhecimento acumulado (educação formal somada à vivência pessoal) e, de outro, por força de eventos e sentimentos momentâneos imprevisíveis, tais como o amor e o ódio.

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A título ilustrativo, vale lembrar o caso do cantor e poeta Renato Teixeira. Em entrevista ao Programa do Jô, ele afirmou que, quando estava compondo ‘Romaria’, uma de suas canções mais famosas, imortalizada na voz de Elis Regina, sentiu preguiça em determinado momento e decidiu acabar a canção de qualquer jeito. Daí o último verso, que diz: ‘seu olhar, seu olhar, seu olhar…’.

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Então, para que alguém também pudesse compor aquela mesma canção do Renato Teixeira, seria preciso, no mínimo, ter a mesma vivência no meio rural brasileiro, com forte influência do catolicismo tradicional, conhecer a cultura das festas cristãs, possuir basicamente o mesmo conjunto vocabulário, e, ainda por cima, ao escrever o poema, exatamente na hora de compor o verso final, sentir a mesma preguiça que se abateu sobre esse autor, escolhendo também o ‘olhar’ como última referência metafórica, ao invés de outro verbo qualquer da primeira terminação (‘ar’).

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Diante disso, será mesmo possível que duas pessoas já tenham escrito dois textos exatamente iguais? Eu não creio.
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Leia também:
Gritos Verticais /O Poema de Cada Dia /Poética Herética /Raiz de Cem /Sons de Sonetos

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  1. #1 por joyce em 22 janeiro, 2009 - 4:40 pm

    Nunca, pois são exatamente isso: pessoas e, portanto, diferentes uma da outra. Porém, na Análise do Discurso existe uma discussão sobe a questão da autoria, no sentido de que tudo que produzimos, de alguma forma, já está posto no mundo.

  2. #2 por Andre leite em 22 janeiro, 2009 - 9:45 pm

    andre/ o cara plagiou um texto/ e ai? no outro texto que ele escrever tu compara – deu.plagiador nao se cria/mentira – cai a casa – pode dar ibopezinho mas em pouco tempo deu para bola. tudo bem pelo menos os caras podiam reescrever o texto ou pelo menos mudar umas palavras mas nao fazem nem isto. é muito mais facil e interessante fazer um trabalho dando o credito ao auto/ mas os caras querem ser o que nao sao. abraço.

  3. #3 por brunouL em 23 janeiro, 2009 - 12:08 am

    Uns criam, outros copiam!
    talvez seja preguiça ou apenas incapacidade.
    Mas o pior, é a falta de vergonha!

  4. #4 por vcfazobr em 23 janeiro, 2009 - 12:31 am

    é tão fácil conversar com vc e pedir, entrar em acordo.
    Tenho certeza que vc permitiria que fosse publicado um ou outro poema.
    E ele não teria que se esconder.
    é triste isso.
    bjs…bye!!!

  5. #5 por Tereza em 23 janeiro, 2009 - 5:16 am

    Já ví isso acontecer várias vezes, não apenas com textos, mas com trabalhos gráficos. O pior de tudo é fazer o autor ou quem o represente, ter de provar a autoria…é constrangedor. O plagiador, em palavras simples é um cínico, além de mau caráter.
    Show de blog, parabéns a Rita e André.
    meu carinho.

  6. #6 por PAULO em 23 janeiro, 2009 - 12:48 pm

    Da Vinci, se quisesse, não faria duas monalisas idênticas. Falta muito pouco pra te reconhecerem como um grande poeta e escritor, mas sempre vai ter alguém querendo pegar carona no seu talento.
    Um abraço!!!

  7. #7 por Márcio (Bypoesia) em 25 janeiro, 2009 - 10:09 pm

    Na verdade o plagio é uma maneira das pessoas que cometam esse absurdo se sintam bem por não ser capaz de expressar seus próprios sentimentos e andam por ai procurando “novas idéias” dos outros para tirar proveito da cituação que, ao em vez de perderem tempo para tal coisa e tentar fazer do seu jeito suas próprias ideias andam seguindo pessoas que tem essa capacidade e isso nunca vai mudar infelizmente é igual querer juntar a terra com o sol e serem um planeta só impossivel!

  8. #8 por ismaelia em 30 janeiro, 2009 - 3:12 pm

    Para mim o plageador não é nenhum inocente, sabe o que esta fazendo.. porém e mais facil copiar doque criar.

  9. #9 por Bruno em 10 fevereiro, 2009 - 9:25 pm

    Interessante, este texto.
    Ainda ontem tive de lidar com um caso de plágio. Um cara que encontrou um texto na internet, fez uma tradução livre e apresentou-o no blogue como se fosse da sua autoria.
    Confrontei-o e procurou negar uma evidência. Disse que o texto não era igual, quando na verdade olhando para um e para outro, reparamos que um é a tradução do outro.
    No meu blogue publiquei um post sobre este caso de plágio, como resposta fui insultado (insultos que não me afectam) e o cara continuou a negar o plágio e adoptou uma postura de arrogância.
    Em Portugal, plágio é crime e pode dar pena de prisão até 3 anos. São cada vez mais os casos (até de gente conhecida), mas nada acontece. Casos que tenha conhecimento, com este são já três. E toda a gente tenta lançar areia para os olhos dos outros.

  10. #10 por whattson em 24 fevereiro, 2009 - 11:31 am

    Adoro o material postado por vcs,continuem assim,tenho um blog com muito conteúdo interessante, vale apena conferir, espero sua visita…CETONLINE

  11. #11 por Hapke em 26 janeiro, 2010 - 5:24 am

    cool pics

  1. CONTRA O PLÁGIO (I) : socialismo

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